O Coração do Tártaro – Rosa Monteiro

Olá pessoas!

Ainda “balançada” pela maravilhosa obra que li, A Louca da Casa (cuja resenha pode ser vista aqui), resolvi comprar outro livro para realmente conferir se ela é tão brilhante quanto eu achava, então vos apresento O Coração do Tártaro.

Confesso que esse foi um daqueles livros que comprei pela impulsividade, já que só o título me atraiu (sou alguém que ama mitologias, principalmente a grega e romana, então imagine o que a palavra tártaro me causou).

Mas também li a sinopse e confesso que foi o que me impulsionou a comprar. Ele conta a narrativa de Sofia Zarzamala, uma editora especialista em histórias medievais, que tem uma vida sem graça e rotineira, vivendo só para o trabalho, até que, em uma manhã, recebe uma ligação misteriosa, em que a pessoa diz apenas: Encontrei você.

A vida dela vira então de cabeça para baixo, tendo que desenterrar todo seu passado sórdido para tentar por um fim àquela caça desenfreada.

No decorrer do livro, são descritos diversos flashbacks contando, pouco a pouco, a vida de Zarza (seu apelido de infância, uma ironia com a palavra sarça e seu próprio sobrenome).

Descobrimos assim que sua família era totalmente desestruturada e que isso influenciou para que sua própria vida se tornasse desestabilizada, já que depois da morte da mãe (que teve uma crise depressiva tão forte que terminou seus dias definhando na sua cama) e do desaparecimento do pai (ao qual Zarza acusa de molestador e ladrão – motivo este da fuga), Zarza recorre ao seu gêmeo, Nicolás, para Respirar e Prosseguir (sua frase de tranquilidade).

Porém, por causa de um acidente, eles se separam bruscamente, e, agora, depois de sete longos anos, ele retorna do passado para se vingar de Zarza e fazê-la relembrar de tudo aquilo que lutou tanto para esquecer.

“O pior é que as desgraças não costumam ser anunciadas. Não há cães que uivem ao amanhecer para marcar a data da nossa morte, e a pessoa nunca sabe, quando começa o dia, se o que a espera é uma jornada rotineira ou uma catástrofe. A desgraça é uma quarta dimensão que adere às nossas vidas como uma sombra; quase todos nós damos um jeito de viver esquecendo que somos frágeis e mortais, mas alguns indivíduos não sabem se proteger do temor do abismo”

Um personagem importante é um outro irmão de Zarza, Miguel, um doente mental que reside em uma clínica especializada e que, apesar de estar nessa condição, ele é muito sensitivo e esperto, conseguindo até em alguns momentos fazer sua irmã se emocionar com sua extrema bondade e inocência, fazendo até que ela acredite que há esperança no mundo, mesmo com tudo que ela já fez.

“Toda essa inocência a redimia. A inocência dos retardados, dos seres puros, dos idiotas. Criaturas transparentes que constituíam contrapeso da maldade. Não passavam de uns pobres tipos anormais que considerávamos defeituosos e, no entanto, compensavam com sua candura a atrocidade do mundo e mantinham as trevas afastadas. Que outra coisa podiam ser, senão autênticos anjos? Os únicos autênticos e reais.”

Uma característica interessante do livro é a forma como são descritos os diversos acontecimentos, já que a narrativa segue uma cronologia não-linear, além de contar algumas histórias paralelas, pois Zarza, como foi dito, é editora de histórias medievais, e no momento estava trabalhando na história do Cavaleiro da Rosa, um conto que fala de traição, amor, ódio, rancor, ou seja, tudo aquilo que existe na vida de Zarza. Todas essas histórias se complementam, dando um sentido ainda maior.

Apesar de parecer uma história até simples, a autora se utiliza de vários recursos para contá-la, principalmente a metalinguagem e a metáfora. É subtendido que Zarza se envolveu com prostituição, indo frequentemente num lugar chamado Torre para trabalhar e se envolvendo com Branca, que nada mais é que droga, tanto é que por causa dela, ela comete várias atitudes impensadas com pessoas que gostam verdadeiramente dela.

A autora traz também, em vários momentos, explicações para as atitudes de Zarza; não que sejam justificáveis (algumas são totalmente reprováveis), mas aquela faz uma espécie de diagnóstico da mente e da vida desta, de tudo o que passou até tais momentos.

“As crianças espancadas espancam crianças quando adultas, os filhos de bêbados se alcoolizam, os descendentes de suicidas se matam, os que tem pais loucos enlouquecem. A infância é o lugar que você habita pelo resto da sua vida”

A única “crítica” que faço é pelo final; não que não tenha gostado, mas ficaram algumas “pontas soltas” que gostaria que tivesse tido maiores explicações. No entanto, pelo conjunto da obra, o livro me surpreendeu; no futuro, vou querer até reler para ver se consigo descobrir ainda mais alguns “mistérios” que ficaram em mim.

Espero que tenham gostado; sei que é um livro diferente e muito pouco comentado (pelo menos aqui no Brasil), mas deem uma chance, vocês podem gostar (assim como as outras obras da Rosa, que pouco a pouco, lerei também).

Obrigada pela sua visita e até mais!!

Um comentário em “O Coração do Tártaro – Rosa Monteiro

  1. Oi! Também fiquei fascinada com a perspicácia da Rosa Monteiro no A louca da casa e comprei O coração de tártaro para prolongar a onda! Estou achando tão diferente a leitura que dei um Google pra checar… E achei o seu relato! Obrigada por compartilhar.

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